É com imensa pena da minha parte que só hoje, 4 de Julho, e passados três dias do acontecimento, escrevo neste desactualizado mas não esquecido blog.
Durante este campeonato que mobiliza a vida de todos, e especialmente a minha, deveria de escrever com toda a frequência que este fenómeno merece (até porque palavras não me faltam), mas um acontecimento fatal na vida do meu computador e a impossibilidade financeira de adquirir um novo, limitam a minha navegação na internet.
Com uma enxurrada de mails para ler e outros tantos para enviar, arranjei um espacinho no meu precioso tempo para me dedicar aos poucos mas preciosos cibernautas que acompanham este meu espaço.
Não sei por onde começar, porque no meu coração ainda fervilham emoções que só se desvanecerão numa possível derrota (e batam na madeira três vezes). Mas o povo diz, e é soberano, que devemos sempre começar pelo início (Oh não! Outras vezes as frases feitas).
Dia 1 de Julho do presente ano, três horas e meia de uma tarde abafadíssima de Verão, já eu me sentava na relva molhada da Praça S. João Baptista (Almada). Vestida a rigor (entenda-se com umas calças velhas para sujar na relva e um calçado que me permitia descalçar facilmente), fumei o meu primeiro, de muitos, cigarro para me preparar para aquele que se adivinhava ser um jogo de grande sofrimento. Camisola das quinas, dois cachecóis e um chapéu, era a indumentária propícia para um jogo da selecção mas muito desadequada para uma tarde em que o Sol insistia em destilar-nos.
O Hino é sempre de grande emoção e o afinar das vozes para os noventa minutos seguintes (mal sabíamos que seriam cento e vinte mais os penosos penaltis).
Gostava de ter registado o momento na minha câmara fotográfica: famílias inteiras trajadas para o evento, garrafões de vinho, grades e mais grades de cerveja e, alguns resistentes dos nervos como eu, com garrafas de água na mão.
Na primeira parte, mantive-me bastante calma. Ao revés, na segunda, o meu coração palpitava com tremenda intensidade que me sentia dormente.
O prolongamento foi uma tortura mas os "nossos meninos" aguentaram o fado com a antiga, e já quase esquecida, alma lusa.
Mas o destino da nossa selecção já estaria previamente traçado para ser resolvido nos penaltis. Aí é que foi sofrer a bom sofrer. Tinha o coração a bater demasiadamente depressa. Sentia-me cansada e com as pernas a tremer. Acreditei... nunca deixei de acreditar. Os segundos antes de serem cobradas as grandes penalidades eram demasiado penosos para as minhas pernas bambas que, mesmo naquele estado, aguentaram até à última de pé. Senti-me quase a desmaiar, mas era importante de mais para mim para fechar os olhos.
A multidão puxava por Portugal (ninguém grita selecção) mas quando os penalties eram contra a nação, o povo entusiasmava-se ainda mais gritando "Ricardo, Ricardo!". E eu continuava a acreditar. Mas aqueles dois penaltis falhados... meu Deus! Mas quando o Ricardo (o nosso Ricardo) defendeu pela terceira vez, não consegui conter as lágrimas. Baixinho ainda consegui balbuciar "Mãe, se marcarmos agora passamos às meias-finais". Dizia "por favor" repetidamente, como se ganhar aquele jogo fosse um favor prestado à nação. Era demasiada emoção contida num só coração.
E assim, sem exitar, Cristiano Ronaldo remata a bola para o fim da rede e alevia-nos a todos o coração. Naquele momento orgulhei-me do número que trazia nas costas.
E depois veio a melhor parte, a da comemoração! A alegria que vi e vivi naquele momento não vos consigo transmitir por palavras. Foi uma explosão de alegria, confetis e champagne. Todos pulavam, todos gritavam e no fim cantámos o hino. As ruas almadenses foram mergulhadas numa onda com as cores da nossa bandeira, aquela que é de todos nós e que nestes últimos dias tem sido hasteada como todo o fulgor e brio lusitano.
Agora, a frio, analizo com mais objectivvidade tudo aquilo que se tem passado neste mundial e que, no fundo, é retrato do que já se tinha passado no Europeu de 2004, aqui, em Portugal.
Os cépticos que se vão foder porque isto pouco tem a ver com futebol. Será que ainda ninguém percebeu que num país onde reina a pobreza monetária e de espírito, todos os motivos são válidos porque existe uma imensa necessidade de evasão aos problemas comuns do dia-a-dia. Um país pequeno, beira-mar plantado, com dez milhões de habitantes e que o resto do mundo pensa ser uma província espanhola. Um país que nunca é conhecido pelos melhores motivos, numa conjuntura de descrença social, estar entre as quatro melhores equipas do mundo, até podia ser de berlinde, é uma oportunidade de ouro de darmos a conhecer ao mundo que somos bons, que somos realmente bons, e que temos pessoas de grande valor. Que temos uma bandeira, que temos um hino e, acima de tudo, temos uma história da qual nos podemos orgulhar. Nenhum penta-campeao nos pode tirar isso, a nossa história. E para mim é-me completamente indiferente que o treinador seja brasileiro, até podia ser chinês ou vietnamita, mas o seu valor é indiscutível e, indicutível é também o poder psicológico que exerce sobre os jogadores.
Independentemente do resultado de amanha, eles (jogaores, treinador e a restante equipa técnica) já são heróis nacionais. De Gelsenkirchen, Munique ou Berlim. Como portuguesa estou orgulhosa pela projecção do meu pais, como adepta de futebol pelo desempenho da selecção e como pessoa por ser portuguesa.
Para terminar so gostaria de pedir que
CONTINUEM A ACREDITAR!