26 setembro 2005

Ementa principal: amor e falta de gosto q.b.

Há uma tendência natural para “abimbalhar” qualquer festa por parte do povo português. E o maior exemplo disso são as festas de casamento.
Reúnem-se os convidados em casa do noivo e da noiva, respectivamente. Os noivos sofrem nas mãos dos pseudo-fotógrafos e, enquanto isso, os convidados devoram vorazmente as iguarias presentes. Tão bem que sabe comer sem pagar! Os estômagos revestem-se de doces e salgados adivinhando o pior.
A igreja. Enquanto alguns convidados choram tais Marias Madalenas, a maior parte das almas, mais impacientes, contorcem-se nos duros bancos da igreja e bradam aos céus para saírem dali. O padre fala, os noivos choram, os convidados suspiram… enfim, um verdadeiro quadro de miséria, um verdadeiro quadro lusitano.
Mas a fina-flor do entulho começa no copo-de-água. Convidados passeiam-se elegantemente em vestidos emprestados, sapatos apertados mas plenos da sua altivez (leia-se pequenez). Os cabelos armados em laca e os pulsos com tantas pulseiras quantas consegue suportar. De ouro, claro está!
Passadas poucas horas, as rainhas do ferro velho caem dos saltos e enfiam chinelos e tairocas. A maquilhagem esborrata e o cabelo começa a desarmar. Mas ninguém se importa, as fotografias já foram tiradas para a posteridade.
O manjar, como sempre divinal! Até porque, nos casamentos, a comida é sempre fantástica, principalmente porque é oferecida (parece que ainda ninguém percebeu que a pagamos de uma outra forma). Vê-se uma ou outra criatura a meter qualquer coisa dentro da pochetezinha comprada na loja dos chineses, mas ninguém parece importar-se muito.
A hora de lançar o boquet também é deveras interessante na medida em que as jovens solteiras (umas mais encalhadas que outras) se atropelam e se lançam em voo para serem as felizes contempladas, na esperança de serem as próximas a casar.
No fim do copo-de-água, a origem pouco aristocrata e muito popularóide dos convidados começa a transparecer à medida em que a cai a fachada da conveniência. O álcool aquece os corpos e estala o verniz a muito boa gente.
Já sem os ditos chinelos de enfiar no dedo, noivos e convidados acabam a noite a dançar descalços o “apita o comboio”.
(In) felizmente, há coisas que nunca mudam…
Felicidades aos noivos!

3 comentários:

Luís disse...

Está fixe este texto. É parecido com um que eu tenho no meu blog "Casamentos" nao sei se viste...só que o teu está mais elaborado. Parabéns pelo Blog.

Luís disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
waterdude disse...

Ora que nem todos os casórios são assim!
Mas sempre é melhor ver os cotas a dançar música pimba no nosso casamento, do que irem ao nosso enterro dizerem maravilhas do nem sabem se fomos.
Isso é cinismo muito para além, da hipocrisia, pois que muitas dessas pessoas, mesmo familiares, passam anos sem fazer um telefonema.

As relações descartáveis estão na ordem do dia. São o caminho mais fácil, mas pagam-se em consciência e a prestações.

Dude