25 agosto 2006

Síndroma de “vien ici”


Não há coisa que me dê mais prazer que cruzar-me em locais públicos com tugas que têm vergonha da língua materna mas que, ainda assim, insistem em regressar à terra natal.
Acabadinha de regressar da terra da sardinha (Portimão, para quem não conhece a gastronomia algarvia) e deparo-me nesta minha terra emprestada com a maior bimbice do mês de Agosto.
Durante o mês mais quente do ano, portadores do síndroma de “vien ici” (o mesmo seria dizer “vien ici senão levas nos cornos”) passeiam-se pelas praias portuguesas como o seu tão charmoso bronze de pedreiro enquanto falam, bem alto para todos ouvirem, o famoso francês de sacavém. Como se isso não bastasse, raramente se esquecem do fiozinho de ouro com o crucifixo na ponta. Mudam-se de malas e bagagem para passarem 8 horas na praia. Trazem (no mínimo) três chapéus de Sol, lençóis que penduram nos chapéus com molas de estender a roupa, a geleira (esta sim!) azul da campingás, os tios, os primos, os netos, os avós, os pais, os filhos e o cão, os pastéis de bacalhau, o arroz de grelos, o tintinho da minha terra (atenção que não é da minha), o melão e a perna de presunto, senhores! Durante a estadia na praia, falam alto, mandam areia para os demais, chapinham na água com boias de metro e meio. Oh meus amigos, quem é que quer um vizinho deste quando se vai para a praia relaxar a cabeça e curtir o Sol?
Os “avecs”, ou portadores do síndroma de “vien ici”, são aqueles portuguesinhos que passam onze meses do ano a limpar a merda dos francius e depois veem para cá com os seus mercedes (do tipo taxi) com 10 anos, a falar aquela língua incompreensivel que afirmam piamente ser francês, e tratam os empregados de mesa como o seu patronato os trata durante os restantes onze meses do ano. São aqueles patriotas, que regressam a nação mas nem se quer falam português. São também aqueles que durante o Euro e o Mundial gritaram a plenos pulmões para os canais televisivos portugueses mas que, ao chegarem cá, não se cansam de fazerem comparações reles com o país onde estão emigrados (e já diria o meu pai, quem faz comparações são as pessoas pouco inteligentes).
Com todo o respeito que tenho por quem tem a coragem de emigrar para um país desconhecido à procura de melhores condições de vida, reprovo visceralmente a atitude dessa gente mediocre de espirito que, em um mês, tenta repor os níveis normais de auto-estima completamente devastados pelos paises que os acolhem.
Se teem vergonha do vosso país, façam um favor à nação, não voltem...


(para vos provar que não sou preconceituosa, acrescento apenas que também eu já fui emigrante)

1 comentário:

Anónimo disse...

Há muito que reparo na atitude desses figurões. Os de agora já pouco têm a ver com os da geração de 60 que, patrioticamente, deram de "frosques" para fugirem à guerra, regressando anos mais tarde envoltos na bandeira portuguesa e em patriotismo bacoco, afirmando que partiram por consciência política. Consciência política, antes do 25 de Abril, tinham os estudantes e doutores porque nós, a ralé, o que sabíamos de política era que não podíamos falar dela.
Por acaso aquela guerra até foi injusta em dois sentidos. Foi-o para os povos africanos mas também para o jovem português que era obrigado a matar para não morrer mas se fosse uma guerra pela independência de Portugal os patriotas da trolha tinham feito exactamente o mesmo.
Por isso, quando os vejo passar nos tais Mercedes, com a bandeira a cobrir a chapeleira, perco a noção da decência e faço-lhes um manguito.