10 outubro 2005

Humor e corrupção

Estas foram as palavras-chave da noite de ontem. Como em qualquer noite eleitoral, as televisões generalistas centraram-se totalmente nas previsões e não resultados o que levou a algumas surpresas (o caso do Município de Leiria, por exemplo).
O que não me surpreendeu mesmo nada foram aqueles quatros fantásticos casos em que processos judiciais estavam envolvidos.
Mais uma vez sou obrigada a mencionar (e acreditem que é com muito custo) o “milagre de Fátima”, não a dos pastorinhos mas a de Felgueiras. Depois daquele affair todo de que falei no último artigo que aqui escrevi, a senhora ganhou realmente, e por uma maioria absoluta. Ao seu estilo habitual de discursos, Fátima Felgueiras esquivou-se deselegantemente a todas as perguntas colocadas. Os amigos jornalistas já deveriam ter percebido de que todas as perguntas que se façam a esta senhora são retóricas.
Segundo caso, surpreendente ou não, foi o município de Gondomar. Major Valentim Loureiro, depois de todo o escândalo do seu envolvimento no “caso Apito Dourado”, ganhou a presidência desta autarquia. Numa praceta qualquer, reuniram-se milhares de apoiantes do major, num entusiasmo popular que em tempos vi de apoio aos maiores fascistas da história mundial. O major parecia emocionado, ou pelo menos faltavam-lhe palavras e também a voz. Onde é que eu já vi isto?
É na linha que está o terceiro fantástico, mais propriamente em Oeiras. Falo, obviamente, de Isaltino Morais, que podia perfeitamente vestir a pele do Homem Tocha, visto estar “em chamas” com o seu antigo partido. Lá ganhou à sua ex. braço-direito. Tão amigos que nós éramos!
E, ao contrário das minhas previsões (cor de rosa q.b.), o quarto fantástico não é Avelino Ferreira Torres, a celebridade em Amarante, mas Isabel Damasceno em Leiria. Todos sabemos que o povo leiriense sempre foi de extrema-direita, quase a roçar o fascista, mas visto que as previsões davam a vitória a um partido de esquerda, o resultado final foi, até para mim, surpreendente. É que esta senhora, tal como o major, também estava envolvida no processo “Apito Dourado”. Tal como nas autarquias supracitadas, o povo, soberano, absolveu a arguida.
Estes quatro fantásticos, que se candidataram independentes dos seus antigos partidos, não o eram assim tão fantásticos se não tivessem os quatro a “contas” com a justiça. Mas o Zé Povinho pronunciou-se “Coitadinho(a), ele(a) é tão boa pessoa…”, e mesmo sem o apoio dos partidos, com a justiça “à perna” e o olhar inquisidor do Estado, votou nos seu candidatos do coração. Parece que a corrupção afinal compensa.
De tudo isto vale-nos umas autárquicas coloridas, visto que os sacos eram bem azuis e os apitos dourados!

1 comentário:

Prometeu disse...

Afinal de contas, não passa de democracia no seu melhor: a imposição da estupidez e mediocridade da maioria. Escreve mais frequentemente se puderes, é um prazer ler-te. Já agora, aproveito para agradecer os teus comentários e incentivos, que são sempre mais um estímulo para ir escrevendo qualquer coisa (e quanto ao nosso amigo Witkin, nada lhe faz justiça como uma boa impressão, mas enfim... para o efeito o ecran TFT lá teve de servir)