28 outubro 2005

Portugal: pessimismo e pedofilia

“São dois dos principais problemas de Portugal: os poucos pessimistas profissionais, que passam a vida a contaminar o resto da população, e uma governação inadequada, ineficiente, ineficaz e fora de contacto com a realidade no país. Que Portugal e os portugueses têm inegáveis qualidades, não hajam dúvidas. Não é por nada que Portugal é um país independente e a Catalunha, a Bretanha, a Escócia e a Bavária o não são. Não é por nada que o português é a sétima lingua mais falada no mundo, à frente do alemão, do francês e do italiano. No entando, estas qualidades precisam de ser cultivadas por quem foi eleito para liderar e dirigir o país.
O que acontece é que nem agora, nem por muito tempo, Portugal tem tido Líderes dignos do seu povo, capazes de liderar a nação, realizar os projectos que foram escolhidos para realizar. O resultado é uma onda de pessimismo, no meio dum mar de desemprego, desinteresse e desorientação que serve de combustível para a economia emocional não funcionar, aquela economia que é tão importante quanto a esconomia das quotas de oferta e procura.
A consequência é uma retracção não só ad economia mas também do psique da sociedade, com uma introversão patológica a manifestar-se no escrutínio colectivo do umbigo nacional, ou um pouco mais abaixo.
A não-história da pedofilia, já uma psicose nacional, é um belíssimo exemplo de até onde pode chegar uma sociedade quando nem é orientada nem estimulada a pensar em horizontes mais saudáveis. Há mais que um ano a imprensa portuguesa regurgita a história do abuso sexual de meninos do orfanato/escola Casa Pia, apontando nomes sonantes da vida pública que nem têm lugar aqui, visto que até ser provado o contrário, uma pessoa numa sociedade civilizada, é considerada inocente. Na busca de quem foi ou quem não foi, deu origem ao levantamento na praça pública duma lista substancial de nomes do mundo artístico, desportivo, e político, aos mais altos níveis. Não é a causa do pessimismo em Portugal, mas espelho dele.
A noção que ‘nós não prestamos, somso os coitadinhos da Europa e a alta sociedade é podre’ se ouvia nos finais dos anos 70, desapareceu e com a não governação do primeiro ministro José Barroso, voltou. Está tangível, quanto mais para um estrangeiro que ama e estuda este país há 25 anos.
Outra manifestação deste pessimismo é a negatividade ao nível das conversas nos cafés (inaudíveis nos claustros de cristal onde pairam os governantes do páis) acerca dum evento qua a priori é a melhor hipótese que Portugal alguma vez tem tido para se projectar na comunidade internacional, o Euro 2004.
O Euro 2004 é o ponto desportivo mais alto na história quase milenar de Portugal. É um dos três mais vistos eventos televisivos no mundo e é uma excelente oportunidade de enterrar de vez a falácia que Portugal é uma província espanhola. Mas o que é que acontece? Enquanto o resto da Europa se prepara com entusiasmo para o Campeonato da Europa em Futebol, se ouve em Portugal por todos o lado que os estádios não estão preparados, ou que não são seguros, ou que os aeropostos não estão preparados. Disparate! Ou pior, uma vergonha, por quem perpetua este tipo de lixo que se chame notícias por aí. Para começar, os estádios estão prontos que já se joga futebol neles.. Segundo, as normas de segurança têm de obedecer a rigorosíssimas normas de controlo estipuladas pela inflexível UEFA. Terceiro, os aeroportos têm dos sistemas mais avamçadps de controlo de tráfico áreo, total e completamente integrados nos da União Europeia e mais, os adeptos não vão todos chegar no mesmo dia, nemt odos de avião. Quarto, quandos os bilhetes foram vendidos na Internet, foi consultada a base de dados proferida pelas forças policiais dos países presentes no Euro 2004. Quinto, Portugal é alguma vez um alvo para ataques terroristas,d esde quando? Só se fossem as FP-25 de Abril. Porém, onde estão as autoridades a explicarem a verdade, a estimular a população, a instilar o optimismo, não so para o Euro 2004 mas para galvanizar a economia, a liderar o país?
Exactamente onde estiveram, estes ou outros, quando os interesses dos portugueses estavam a ser vendidos por um preço barato, o que levou gradualmente À situação actual em que uma família portuguesa gaste substancialmente mais do que o seu ordenado em necessidades básicas do que no resto da Europa.
Não se admite que num supermercado espanhol, se encontrem exactamente os mesmos produtos bem mais baratos do que em Portugal, não se admite que no Reino Unidos o ceste básico de alimentos custa bastante menos, quando se ganha cinco, seis ou sete vezes mais.
Os portugueses agstam uma fatia tão grande do seu ordenado em mantimentos fundamentais qua não há capital disponível para os serviços, restringindo a economia a um modelo básico e muito primário.
Em Portugal, o plano é ganhar as próximas eleições, ponto final.
O que acontece depois? Há uma onda laranja ou cor-de-rosa a varrer o país e ocupar todos os quadros altos e médeios, seja em ministérios, em faculdades, em firmas, até em hospitais. O grande plano é, quando muito, de quatro anos, o que explica a pequenez de pensamento e a falta de visão personalizada por uma ministra das finanças que trata a economia do país como se fosse uma dona de casa maníaca, que, munida com uma tesoura gigante, tenta transformar um lençol de cama de casal numa bata para uma boneca diminuta? Corta, corta, corta. O resultado disso tudo é o que se vê: desempregados à espera de desemprego durante largos anos, não semanas, sem receberem um tostão do governo que elegeram para os proteger.
Quão conveniente por isso que o país fale de pedófilos e não da economia do emprego, da falta de poder de liderença deste ‘governo’ PSD/PP, ausência dum cariz democrático, ou social, ou popular, da ausência do contacto ou calor humano destes, que foram eleitos para proteger os seus cidadãos. O que fizeram? Absolutamente nada. Lamentaram que o país era um caos, e calaram-se. Entao, onde estão as políticas de salvação?
Portugal está, e por muito tempo tem sido, liderada por uma argamassa de cinzentos incompetentes que venderam os interesses dos país irresponsável e negligentemente para incendiar a paixão do povo deste país lindo, desta pérola do Atlântico, de ajudá-lo a ir ao encontro dos seus sonhos, acreditar em si, redescobrir as suas consideráveis qualidades e colocar Portugal num lugar de destaque entre a comunidade internacional.
O leitor pode apontar quem tenha feito isso nos últimos anos? O José Barroso está a fazê-lo? Caso contrário, se não descobrir, e rapidamente, quem for competente para convernar este país, os projectos audazes e brilhantes, que vão de mãos dadas com o espírito e a alma portuguesa, como por exemplo a Expo 98 e o Euro 2004, ambos com uma gestão excelente e uma preparação de que poucos países se poderiam gabar, perder-se-ão no mar de lamúrias que assola Portugal.
Francamente, a paciência dos que tanto lutaram para fazer qualquer coisa deste rectângulo atlântico, começa a esgotar-se. Já que gostam de dizer que quem não está bem deve mudar-se, começa a ser uma excelente ideia.”

Timothy Bancroft-Hinchey
Director e chefe de redacção PRAVDA.Ru

2 comentários:

Prometeu disse...

Olá, Alina
Já conhecia esta crónica e, na minha modesta opinião, o raciocínio do senhor em questão, embora toque um outro ponto pertinente, radica num pressuposto falacioso que infecta todas as inferências lógicas subsequentes: o mito de que temos uma classe dirigente que desmerece o povo. Não é verdade. A classe política portuguesa, na sua mediocridade atávica, não passa de um émulo (ainda que amplificado), da pobreza cívica, intelectual e até social do povo português (e não me estou a excluir), cujas inegáveis mas parcas qualidades estão longe de poder compensar um crónico e absoluto desrespeito pelo próximo no qual entroncam grande parte das limitações lusitanas.
Gosto mais quando és tu que escreves, és mais original que o gajo do Pravda.
Beijos

Paulo disse...

A crónica tem muitos pontos com que discordo obrigatoriamente. Um: a certa altura a falar do desemprego faz uma alusão a ser uma falha da segurança pra que é eleito o governo, eu pessoalmente elejo não apenas para a minha segurança (neste caso em termos de trabalho), mas especialmente para gerir e meter isto a funcionar melhor, é uma nova cláusula do contrato social: maximizar o rendimento do país, e isso às vezes obriga a medidas como despedimentos. Cruel?! Sim, pra quem necessita desse emprego sem duvida. Quanto ao desemprego: temos um país de idosos e Drs., vá-se a ver quem quer um trabalho "menor" (não são menores) e quantos dirão que sim?! Pois...
Fala sobre gastar-se muito em comida e bens básicos?! Vejo disso sim, mas não deve estar a incluir as inumeras excepções ou talvez regra: Endividamento excessivo e em certos casos desnecessário, pobrezinho de mim que não tenho dinheiro pra nada e contrai-se um empréstimo, para onde vai o dinheiro?! Carro novo ou alterar o antigo...!
E o pior é que não considero que isto seja pintar o quadro de negro porque se é inquestionável que temos muito boas coisas, então também é bem visivel aos olhos de quem queira realmente ver que "nós" (povo) metemos o país assim ou pelo menos não ajudamos a melhorar a situação. Já dizia o Palma: "Ai Portugal Portugal de que é que estás à espera?!" e passados estes anos ainda esperamos, é assim...