17 outubro 2005

A cultura de massas

Eu sei que este tema é muito focado, talvez até demasiado (ou talvez tão pouco que nem lembremos o seu conceito) mas era contra a minha natureza não dissertar qualquer coisa sobre este assunto.
Escrevo com voz de que sabe e de quem sente na pele diariamente o sufoco de uma cultura standardizada que gere um monopólio de interesses e capital.
É que supostamente vivemos num país onde existe liberdade de imprensa, mas a maior parte das vezes era preferivel que os media passassem pelo lapis azul da censura dada a qualidade (ou não) do seu produto.
Numa cultura de massas onde os mass media controlam a mente e o intelecto das maiorias com vista no seu proprio monopolio, as minorias culturais são ostracizadas duma cultura onde não existe lugar para o desenvolvimento intelectual mas apenas para a manipulação do mesmo intelecto.
É um género de xenofobia dentro do mesmo país, de racismo dentro da mesma raça.
Os canais televisivos limitam-se a transmitir Reallity Shows, programas de variedades de pouco interesse e novelas, essas brasileiras ou nacionais mas de qualidade idêntica (pouca ou nenhuma).
Resta-nos umas réstia de esperança. Ou temos um nível de vida que nos permita adequirir televisão por cabo, ou somos manipulados naquilo que vemos. Mexem-nos na inteligência para diminui-la em informação tendenciosa e sensionalista.
Também a imprensa escrita está na decadência. Os jornalistas escrevem qualquer coisa de fraca qualidade mas com títulos bombásticos que chamam a atenção das mentes mais influênciaveis. As fotos que aparecem são cada vez maiores poupando o lugar as palavras. E até neste tipo de imprensa já aparecem notícias cor-de-rosa. Entre broadsheets e tabloides a diferença já é muito pouca.
Nem se quer vou entrar no tema da música, porque esta quando feita em português, contam-se pelos dedos das mãos as bandas e artistas de qualidade.
E depois aparece sempre aquela desculpa “Ah e tal a cultura é cara”. Mas isso á muito que não é desculpa. Eu, como apaixonada que sou da fotografia, não falho uma exposição no CCB. Um bilhete custa 3,50€. Muito mais que isso gastam vocês numa Vodka. Menores de 25 anos e estudantes só pagam 1,75€, meu Deus, isso não é nada! Recusam-se a pagar isso mas, se for preciso, chegam cá foram e dão 2,55€ por um Marlboro. Não estamos a falar de números, estamos a falar de inteligência, de vontade de se cultivar e de hábitos. Estamos a falar de quem é auto-didacta e de quem só aprende porque “tem de ser”.
Também estou a falar contigo. Exactamente a pessoa que esta por detrás desse ecrã. Cabe-te a ti, a mim e a todos mudar essa cultura de massas, que fazia algum sentido no século XIX mas que agora é ridicula e que está a estagnar o desenvolvimento intelectual do nosso país...
Se é que ele existe...

2 comentários:

Prometeu disse...

Sinceramente, não vejo necessidade de estender valores minoritários à maioria. Pessoalmente sou uma minoria e estou contente por sê-lo, a última coisa que quereria era ver os meus padrões estéticos e artistícos usurpados pela populaça ululante. Poderá parecer snobismo, e talvez seja, mas o problema não é a cultura de massas, mas as massas da cultura (e não percebo porque achas que fazia sentido no séc. XIX), e não podemos por um lado colher os benefícios materiais de uma sociedade capitalista pós-moderna, e por outro insurgimo-nos contra a degradação intelectual que ela necessariamente acarreta. E enquanto houver produção artística de qualidade e público para ela porque nos deverá preocupar a ignorância atávica da imensa maioria?

Luis disse...

Sim estamos numa epoca de massificação,
e de muitos programas de televisão estupidificantes, mas quem quer aprender mais, orienta-se, e filtra tudo o que não interessa.
De qualquer maneira, tambem não é preciso uma pessoa ser só constituida de uma cultura de ir assistir a opera todos os dias, nem ir só ver bailados e teatros, porque isso tambem pode bloquear um pouco a ideia do que é a realidade.
acho que se deve fazer um pouco de tudo. E as coisas que possam ter mais qualidade ou conteudo, é claro que devem ser favorecidas, pois são as que nos fazem crescer mais.
Mas concordo que não é preciso gastar muito dinheiro para enriquecer a nossa cultura, por exemlo, para ver filmes ir mais á cinemateca, para livros, por exemplo ler um pouco de shakespeare.
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