22 dezembro 2005

Natal

Esta é a época em que me divirto mais a observar as pessoas. Voyer assumidissima, sento-me calmamente na Fnac do antigo Grandela (e porque é natal, nem me importo de fazer publicidade), bebo o sagrado café e fumo o, ainda mais sagrado, cigarro. Olho pela janela e aprecio a magnífica vista sobre o Castelo, para evadir o meu olhar das fotografias de (quase sempre) pouquíssima qualidade, que se espalham pelo café. Mas não posso deixar de reparar no ritmo em que as pessoas se movimentam pela loja. Mexem nos objectos, sejam livros ou telemóveis, comparam preços e percepitam-se para as caixas, num consumismo frenético próprio da época. Vejo pessoas a entrar e pessoas a sair, enquanto eu degusto a cafeína. Já na loja, leio alguns prefácios cujos títulos me chamam a atenção, enquanto o frenesim continua. Ouve-se um burburinho que quase me consegue desconcentrar. E penso que aquilo que devia de ser visto e cheirado, torna-se consumido como lenços de papel. Ninguém pensa na qualidade da escrita ou da música, apenas olham para a lista de pessoas e compram para preencher as vagas existentes. Sinto-me ligeiramente enfastiada e saio da loja e do respectivo Centro Comercial.
Já na rua, sorrio pela ausência de ares condicionados e olho o céu. Nesta altura pré-fabricada pelo Homem, é bom apreciar as dádivas da natureza. Continuo o meu caminho, um pouco sem destino, e as pessoas continuam a correr cheias e sacos e com um ar mais stressado do que o de segunda-feira, apesar de ser sábado. Entro numa loja de minha preferência mas é impossível chegar-me às prateleiras devido ao amontoado de gente. Respiro fundo e saio da loja.
Começo a ficar chateada quando me deparo com a técnica de marketing mais bem conseguida da história da humanidade. O Pai Natal, ou melhor, o Pai Coca Cola. Já é demais para o meu sábado de descanso.
Chiado acima, deparo-me com imensas pessoas a pedir para isto ou aquilo. Associação dos sem-abrigo, associação dos escuteiros católicos portugueses, associação do raio que me parta e do caraças mais próximo.
Ok, vou desistir e apanhar o eléctrico para casa.
Cinco minutos, dez minutos, um quarto de hora, meia hora e nunca mais chega o atraso de vida do eléctrico. Continuo a observar as pessoas. Um grupo de espanhóis aqui, outro grupo de ingleses acolá. Parecem calmos. Surge vindo sabe Deus de onde, um “fora de prazo” a pedir esmola. Logo se gerou a confusão quando uma senhora (também desenterrada, diga-se) não só recusa-se a dar uns centimos, como ainda arma um trinta e um e logo se instala a gritaria. Uma hora e um quarto de pois subo para o eléctrico.
Podia ser pior, cheguei a casa para almoçar às três da tarde.
E que me deparo eu na televisão?! Com o fantástico e badalado Natal dos Hospitais. Natal das Prisões, Natal das crianças, Natal dos paralíticos anónimos, sempre com um bando de gnus aos saltos no palco.
“Onde está o teu espírito natalício?” pergunta a minha mãe”. “Mãe, num país em que as pessoas metem créditos para não ficarem mal vistos na consoada, onde andam pais natal por todas as ruas e vielas aos saltos a cantarem músicas monofónicas, num país onde as pessoas se juntam à volta da televisão para verem o Natal do atrasados mentais anónimos e ainda fazem filas gigantes para verem uma árvore de Natal de latão que gasta não sei quantos watts por segundo, numa conjuntura de tristeza de espírito colectivo, por onde queres que ande o meu espírito natalício?”. Pois eu respondo-te, mãe, anda pelas ruas da amargura. E sabes ainda que mais, mãe, por mim não comemorava natal nem merda nenhuma, só que depois caía o arco e a trindade e vinham todos os santinhos do cú de judas cruxificarem-me por dar esse desgosto à minha família. Porque no ano em que eu disse que ía passar a consoada com os sem-abrigo, mãe, a minha avô caiu num pranto que nem Maquiavel resistia, quanto mais eu que, às vezes, e ao contrário do que tu pensas, até tenho sentimentos.

E aquele que era suposto ser um artigo sobre a atitude consumista no Natal, acaba por ser um grito de revolta sobre os valores da minha infância.
Mas parece que já não sou criança...

Um Bom Natal

02 dezembro 2005

A decadência do que sou

Estou decadente...
O meu coração bate cada vez mais depressa...
Mas eu estou cada vez menos viva.

Olho para a frente...
Nada de novo.
Olho para trás
...

Os meus defeitos paralisam-me,
As minhas incertezas sufocam-me.

Quero gritar,
Quero correr,
Quero gastar esta descarga incoveniente de adrenALINA que se apossou dos meus músculos.
Músculos que são meus mas dos quais não controlo.
Quero fugir,
Mas não consigo!
Quero mudar...
Mas não consigo...

Quero ser mais e melhor...
Mas todos os dias me olho no espelho,
E constato que não passo de um verme merdoso e pestilento.

Queria viver,
Mas não consigo...
Queria morrer,
MAS SERÁ QUE NEM ISSO CONSIGO?!

Só consigo suportar,
E cada vez menos,
Esta imagem hidionda do ser que habita em mim,
Mas que não sou eu...

Ou prefiro pensar que não...

(esta maldita dor de cabeça...)

15 novembro 2005

Costa da Caparica


É o meu passeio domingueiro desde que vivo aqui, na margem sul. Todos os domingos de manhã, e sem excepção, vou a Costa da Caparica. Adoro o mar e é muito importante para mim ve-lo, pelo menos, uma vez por semana. Reflito sobre actos passados e encontro-me a mim mesma.
Mas...
A Costa podia muito bem ser o ex-lybris da margem sul mas não é mais do que a fina flôr do entulho, o reflexo de um país triste com um estado de políticas débeis e autarquias prepotentes que nada fazem para melhorar a sua cidade.
Poderia falar do combate de wrestling comunistas vs sociais-democratas mas isso era político de mais para um tão humilde blog. A verdade é que depois de tantas batalhas políticas travadas, a Costa da Caparica continua, agora uma cidade, degrada e muito pouco parecida com uma atracção turística.
O problema da Costa não é tão linear como possa parecer à primeira vista. Os terrenos desta terra piscatória estão divididos em tão opostos poderes como estado-câmara-particulares-militares e outros tantos que ninguém sabe muito bem a quem pertecem. A Junta de Freguesia debate-se (ou não) por uma Costa melhor, a Câmara Municipal “torce o nariz” porque a junta não é da mesma cor. Os campistas não qurem sair, os charnequenses não os querem na Mata dos Medos, e o bemdito programa Pólis que não há meio de haverem resultados visiveis, exceptuando a imensa pedreira que se encontra mesmo em frente à praia.
Politiquices à parte, a verdade é que aquilo que podia ser algo de muito bonito e de interesse turistico não é mais do que uma terra em obras onde os poderes lutam entre si sem resultados positivos para a população que por lá vive.
E, mesmo eu que não sou de lá, enerva-me profundamente passear pelo pontão e te-lo dividido com grades, qual muro de berlim, ficando os bares e restaurantes dum lado e a praia do outro. O comércio é pobre e de pouca qualidade, os bares resumem-se a esplanadas que no Inverno tornam-se muito pouco convidativas e, às tantas, damos connosco a ponderar as razões de ir à Costa.
Pouco me interessa a mim saber de quem a culpa da Costa da Caparica estar degrada como está, mas acho que é urgente fazer qualquer coisa para salvar aquela terra que em tempos era a joia da margem sul.

28 outubro 2005

Portugal: pessimismo e pedofilia

“São dois dos principais problemas de Portugal: os poucos pessimistas profissionais, que passam a vida a contaminar o resto da população, e uma governação inadequada, ineficiente, ineficaz e fora de contacto com a realidade no país. Que Portugal e os portugueses têm inegáveis qualidades, não hajam dúvidas. Não é por nada que Portugal é um país independente e a Catalunha, a Bretanha, a Escócia e a Bavária o não são. Não é por nada que o português é a sétima lingua mais falada no mundo, à frente do alemão, do francês e do italiano. No entando, estas qualidades precisam de ser cultivadas por quem foi eleito para liderar e dirigir o país.
O que acontece é que nem agora, nem por muito tempo, Portugal tem tido Líderes dignos do seu povo, capazes de liderar a nação, realizar os projectos que foram escolhidos para realizar. O resultado é uma onda de pessimismo, no meio dum mar de desemprego, desinteresse e desorientação que serve de combustível para a economia emocional não funcionar, aquela economia que é tão importante quanto a esconomia das quotas de oferta e procura.
A consequência é uma retracção não só ad economia mas também do psique da sociedade, com uma introversão patológica a manifestar-se no escrutínio colectivo do umbigo nacional, ou um pouco mais abaixo.
A não-história da pedofilia, já uma psicose nacional, é um belíssimo exemplo de até onde pode chegar uma sociedade quando nem é orientada nem estimulada a pensar em horizontes mais saudáveis. Há mais que um ano a imprensa portuguesa regurgita a história do abuso sexual de meninos do orfanato/escola Casa Pia, apontando nomes sonantes da vida pública que nem têm lugar aqui, visto que até ser provado o contrário, uma pessoa numa sociedade civilizada, é considerada inocente. Na busca de quem foi ou quem não foi, deu origem ao levantamento na praça pública duma lista substancial de nomes do mundo artístico, desportivo, e político, aos mais altos níveis. Não é a causa do pessimismo em Portugal, mas espelho dele.
A noção que ‘nós não prestamos, somso os coitadinhos da Europa e a alta sociedade é podre’ se ouvia nos finais dos anos 70, desapareceu e com a não governação do primeiro ministro José Barroso, voltou. Está tangível, quanto mais para um estrangeiro que ama e estuda este país há 25 anos.
Outra manifestação deste pessimismo é a negatividade ao nível das conversas nos cafés (inaudíveis nos claustros de cristal onde pairam os governantes do páis) acerca dum evento qua a priori é a melhor hipótese que Portugal alguma vez tem tido para se projectar na comunidade internacional, o Euro 2004.
O Euro 2004 é o ponto desportivo mais alto na história quase milenar de Portugal. É um dos três mais vistos eventos televisivos no mundo e é uma excelente oportunidade de enterrar de vez a falácia que Portugal é uma província espanhola. Mas o que é que acontece? Enquanto o resto da Europa se prepara com entusiasmo para o Campeonato da Europa em Futebol, se ouve em Portugal por todos o lado que os estádios não estão preparados, ou que não são seguros, ou que os aeropostos não estão preparados. Disparate! Ou pior, uma vergonha, por quem perpetua este tipo de lixo que se chame notícias por aí. Para começar, os estádios estão prontos que já se joga futebol neles.. Segundo, as normas de segurança têm de obedecer a rigorosíssimas normas de controlo estipuladas pela inflexível UEFA. Terceiro, os aeroportos têm dos sistemas mais avamçadps de controlo de tráfico áreo, total e completamente integrados nos da União Europeia e mais, os adeptos não vão todos chegar no mesmo dia, nemt odos de avião. Quarto, quandos os bilhetes foram vendidos na Internet, foi consultada a base de dados proferida pelas forças policiais dos países presentes no Euro 2004. Quinto, Portugal é alguma vez um alvo para ataques terroristas,d esde quando? Só se fossem as FP-25 de Abril. Porém, onde estão as autoridades a explicarem a verdade, a estimular a população, a instilar o optimismo, não so para o Euro 2004 mas para galvanizar a economia, a liderar o país?
Exactamente onde estiveram, estes ou outros, quando os interesses dos portugueses estavam a ser vendidos por um preço barato, o que levou gradualmente À situação actual em que uma família portuguesa gaste substancialmente mais do que o seu ordenado em necessidades básicas do que no resto da Europa.
Não se admite que num supermercado espanhol, se encontrem exactamente os mesmos produtos bem mais baratos do que em Portugal, não se admite que no Reino Unidos o ceste básico de alimentos custa bastante menos, quando se ganha cinco, seis ou sete vezes mais.
Os portugueses agstam uma fatia tão grande do seu ordenado em mantimentos fundamentais qua não há capital disponível para os serviços, restringindo a economia a um modelo básico e muito primário.
Em Portugal, o plano é ganhar as próximas eleições, ponto final.
O que acontece depois? Há uma onda laranja ou cor-de-rosa a varrer o país e ocupar todos os quadros altos e médeios, seja em ministérios, em faculdades, em firmas, até em hospitais. O grande plano é, quando muito, de quatro anos, o que explica a pequenez de pensamento e a falta de visão personalizada por uma ministra das finanças que trata a economia do país como se fosse uma dona de casa maníaca, que, munida com uma tesoura gigante, tenta transformar um lençol de cama de casal numa bata para uma boneca diminuta? Corta, corta, corta. O resultado disso tudo é o que se vê: desempregados à espera de desemprego durante largos anos, não semanas, sem receberem um tostão do governo que elegeram para os proteger.
Quão conveniente por isso que o país fale de pedófilos e não da economia do emprego, da falta de poder de liderença deste ‘governo’ PSD/PP, ausência dum cariz democrático, ou social, ou popular, da ausência do contacto ou calor humano destes, que foram eleitos para proteger os seus cidadãos. O que fizeram? Absolutamente nada. Lamentaram que o país era um caos, e calaram-se. Entao, onde estão as políticas de salvação?
Portugal está, e por muito tempo tem sido, liderada por uma argamassa de cinzentos incompetentes que venderam os interesses dos país irresponsável e negligentemente para incendiar a paixão do povo deste país lindo, desta pérola do Atlântico, de ajudá-lo a ir ao encontro dos seus sonhos, acreditar em si, redescobrir as suas consideráveis qualidades e colocar Portugal num lugar de destaque entre a comunidade internacional.
O leitor pode apontar quem tenha feito isso nos últimos anos? O José Barroso está a fazê-lo? Caso contrário, se não descobrir, e rapidamente, quem for competente para convernar este país, os projectos audazes e brilhantes, que vão de mãos dadas com o espírito e a alma portuguesa, como por exemplo a Expo 98 e o Euro 2004, ambos com uma gestão excelente e uma preparação de que poucos países se poderiam gabar, perder-se-ão no mar de lamúrias que assola Portugal.
Francamente, a paciência dos que tanto lutaram para fazer qualquer coisa deste rectângulo atlântico, começa a esgotar-se. Já que gostam de dizer que quem não está bem deve mudar-se, começa a ser uma excelente ideia.”

Timothy Bancroft-Hinchey
Director e chefe de redacção PRAVDA.Ru

18 outubro 2005

Elegantemente antiga


Entrámos numa ourivesaria qualquer do forum (qualquer porque não me pagam para fazer publicidade) e logo a minha atenção se virou para aquela foto. Não consigo passar numa montra de uma qualquer ourivesaria sem olhar para a maginificencia daquele olhar. A minha prima ía furar pela quarta vez as orelhas e eu... bem, eu estava só a acompanhar. Mas não conseguia parar de olhar para aquela mulher fantástica. Comentei “A Audrey Hepburn era simplesmente linda, elegante, bem vestida, delicada... já não se fazem mulheres assim”. E começou daí uma conversa. Conversa essa que já se repetiu hoje com outra pessoa. E por isso senti necessidade de pensar sobre isso, escrever sobre isso.
Na verdade, não sei bem o que dizer acerca disso. Acho que terei novamente de voltar a falar sobre a condição feminina (qualquer dia já em julgam femininista).
Antigamente era exigida à mulher aquele papel fútil de simples presença. Era o verdadeiro papel higiénico. Mas havia qualquer coisa de misticismo à volta do ser feminino que não existe hoje. A mulher tinha uma aura de intocabilidade frágil que fazia dela um elemento desejado. Andavam de maneira elegante, a sua fala era cuidada, traçavam a perna ao sentar. Vestiam saias travadas ou em corola e trensh couts, rematados por elegantíssimos sapatos, sempre altos. Nenhum fio de cabelo se encontrava fora do sitio e, ao menor sinal de desgaste na maquilhagem, logo se retiravam discretamente para a retocar. Futilidades de que, no meu ver cor de rosa, tinham algum valor.
Mas hoje votamos! Hoje podemos trabalhar em lugares de destaque nas empresas! Hoje até podemos fazer filhos sozinhas! (ou quase). Mas ser alguém na sociedade não implica que descuidemos da nossa imagem nem dos nossos valores. Não quer dizer que tenhamos de nos comportar masculinamente para sermos respeitadas.
Lembro-me de entrar num autocarro e todos os olhares se voltarem para mim porque estava a usar um tailleur, uma indumentaria super normal para quem tarbalhava num escritório. Hoje em dia as mulheres deixam-se seduzir por jeans e ténis das marcas mais caras possíveis, também o faço, mas...
Ok... este é o meu lado fútil, e sei que quem ler isto vai ficar a pensar que só tenho mesmo purpurina na cabeça, mas gostava de partilhar a ideia de que, apesar de emancipadas, continuamos a ser mulheres e que é possível conciliar uma carreira de sucesso, com uma vida familiar sem descurar a imagem que Deus (ou alguém) nos deu.
Façam os juízos de valor que quiserem... é o meu lado feminino, é o meu lado cor de rosa.

17 outubro 2005

A cultura de massas

Eu sei que este tema é muito focado, talvez até demasiado (ou talvez tão pouco que nem lembremos o seu conceito) mas era contra a minha natureza não dissertar qualquer coisa sobre este assunto.
Escrevo com voz de que sabe e de quem sente na pele diariamente o sufoco de uma cultura standardizada que gere um monopólio de interesses e capital.
É que supostamente vivemos num país onde existe liberdade de imprensa, mas a maior parte das vezes era preferivel que os media passassem pelo lapis azul da censura dada a qualidade (ou não) do seu produto.
Numa cultura de massas onde os mass media controlam a mente e o intelecto das maiorias com vista no seu proprio monopolio, as minorias culturais são ostracizadas duma cultura onde não existe lugar para o desenvolvimento intelectual mas apenas para a manipulação do mesmo intelecto.
É um género de xenofobia dentro do mesmo país, de racismo dentro da mesma raça.
Os canais televisivos limitam-se a transmitir Reallity Shows, programas de variedades de pouco interesse e novelas, essas brasileiras ou nacionais mas de qualidade idêntica (pouca ou nenhuma).
Resta-nos umas réstia de esperança. Ou temos um nível de vida que nos permita adequirir televisão por cabo, ou somos manipulados naquilo que vemos. Mexem-nos na inteligência para diminui-la em informação tendenciosa e sensionalista.
Também a imprensa escrita está na decadência. Os jornalistas escrevem qualquer coisa de fraca qualidade mas com títulos bombásticos que chamam a atenção das mentes mais influênciaveis. As fotos que aparecem são cada vez maiores poupando o lugar as palavras. E até neste tipo de imprensa já aparecem notícias cor-de-rosa. Entre broadsheets e tabloides a diferença já é muito pouca.
Nem se quer vou entrar no tema da música, porque esta quando feita em português, contam-se pelos dedos das mãos as bandas e artistas de qualidade.
E depois aparece sempre aquela desculpa “Ah e tal a cultura é cara”. Mas isso á muito que não é desculpa. Eu, como apaixonada que sou da fotografia, não falho uma exposição no CCB. Um bilhete custa 3,50€. Muito mais que isso gastam vocês numa Vodka. Menores de 25 anos e estudantes só pagam 1,75€, meu Deus, isso não é nada! Recusam-se a pagar isso mas, se for preciso, chegam cá foram e dão 2,55€ por um Marlboro. Não estamos a falar de números, estamos a falar de inteligência, de vontade de se cultivar e de hábitos. Estamos a falar de quem é auto-didacta e de quem só aprende porque “tem de ser”.
Também estou a falar contigo. Exactamente a pessoa que esta por detrás desse ecrã. Cabe-te a ti, a mim e a todos mudar essa cultura de massas, que fazia algum sentido no século XIX mas que agora é ridicula e que está a estagnar o desenvolvimento intelectual do nosso país...
Se é que ele existe...

13 outubro 2005

A vacuidade da nossa existência


É fácil habituarmo-nos à condição de amantes. Despimo-nos de preconceitos, também da pouca roupa que nos cobre o corpo, e amamo-los sem tabus. Deixamos que os seus braços fortes abracem nossos corpos frageis e nesse momento, apenas nesse momento, nos sentimos amadas, desejadas, acarinhadas. Entregamo-nos de forma animal e irracional para depois, plenas da nossa racionalidade, sermos devolvidas a vacuidade da nossa condição. Amantes. Amantes do momento, amantes de cama. Entregamo-nos a outros para nos evadir-mos de nos mesmas. E depois resta-nos o vazio. Fumamos um cigarro, vestimos a roupa e... e nada mais. Nada mais resta. Não há amor, não há paixao, não há carinho. E fugimos dali. Fugimos do espaco, do tempo, de nós. No caminho de regresso, a mesma dúvida nos assalta. “Porque fiz isto?”. Porque cá fora não há mais nada nem ninguém. Porque a vida vazia e fútil nos leva a permitir situações que nos proporcionam alguns momentos de prazer. Porque durante algum tempo nos sentimos acarinhadas, nos sentimos vivas, nos sentimos mulheres.
E depois... e depois nada mais.

10 outubro 2005

Humor e corrupção

Estas foram as palavras-chave da noite de ontem. Como em qualquer noite eleitoral, as televisões generalistas centraram-se totalmente nas previsões e não resultados o que levou a algumas surpresas (o caso do Município de Leiria, por exemplo).
O que não me surpreendeu mesmo nada foram aqueles quatros fantásticos casos em que processos judiciais estavam envolvidos.
Mais uma vez sou obrigada a mencionar (e acreditem que é com muito custo) o “milagre de Fátima”, não a dos pastorinhos mas a de Felgueiras. Depois daquele affair todo de que falei no último artigo que aqui escrevi, a senhora ganhou realmente, e por uma maioria absoluta. Ao seu estilo habitual de discursos, Fátima Felgueiras esquivou-se deselegantemente a todas as perguntas colocadas. Os amigos jornalistas já deveriam ter percebido de que todas as perguntas que se façam a esta senhora são retóricas.
Segundo caso, surpreendente ou não, foi o município de Gondomar. Major Valentim Loureiro, depois de todo o escândalo do seu envolvimento no “caso Apito Dourado”, ganhou a presidência desta autarquia. Numa praceta qualquer, reuniram-se milhares de apoiantes do major, num entusiasmo popular que em tempos vi de apoio aos maiores fascistas da história mundial. O major parecia emocionado, ou pelo menos faltavam-lhe palavras e também a voz. Onde é que eu já vi isto?
É na linha que está o terceiro fantástico, mais propriamente em Oeiras. Falo, obviamente, de Isaltino Morais, que podia perfeitamente vestir a pele do Homem Tocha, visto estar “em chamas” com o seu antigo partido. Lá ganhou à sua ex. braço-direito. Tão amigos que nós éramos!
E, ao contrário das minhas previsões (cor de rosa q.b.), o quarto fantástico não é Avelino Ferreira Torres, a celebridade em Amarante, mas Isabel Damasceno em Leiria. Todos sabemos que o povo leiriense sempre foi de extrema-direita, quase a roçar o fascista, mas visto que as previsões davam a vitória a um partido de esquerda, o resultado final foi, até para mim, surpreendente. É que esta senhora, tal como o major, também estava envolvida no processo “Apito Dourado”. Tal como nas autarquias supracitadas, o povo, soberano, absolveu a arguida.
Estes quatro fantásticos, que se candidataram independentes dos seus antigos partidos, não o eram assim tão fantásticos se não tivessem os quatro a “contas” com a justiça. Mas o Zé Povinho pronunciou-se “Coitadinho(a), ele(a) é tão boa pessoa…”, e mesmo sem o apoio dos partidos, com a justiça “à perna” e o olhar inquisidor do Estado, votou nos seu candidatos do coração. Parece que a corrupção afinal compensa.
De tudo isto vale-nos umas autárquicas coloridas, visto que os sacos eram bem azuis e os apitos dourados!

27 setembro 2005

Está dado o início da maior palhaçada do ano

Vinte e sete de Setembro de 2005, data de início daquilo que eu, entre as minhas purpurinas e o meu cor-de-rosa, considero de a maior palhaçada do ano, ou talvez a segunda maior, não esquecendo nunca as presidenciais.
De quatro em quatro anos, dirigimo-nos humildemente na nossa inegável condição de eleitores, às urnas para votar em alguém que vai “comandar” o nosso município, a nossa freguesia durante os ditos quatro anos.
Até estaria tudo mais ou menos correcto senão tivéssemos de “aturar” durante semanas as campanhas eleitorais dos diversos candidatos. Tão bom que é ver nos canais televisivos, candidatos das mais diversas autarquias a debaterem-se tais gladiadores em arenas no tempo de Júlio César. Eu acho que alguém se esqueceu de que nem eles são gladiadores, nem os estúdios televisivos são arenas e que, para o Eng. Sócrates chegar à condição de Júlio César, ainda precisa de muitos bacanais e alguns ramos de louro na cabeça.
O país não é muito grande, mas falar de casos em específico era-me humanamente impossível, até porque o assunto tem casos insólitos o suficiente para ocupar o espaço que me é dado gratuitamente por este blog.
Mas no meu escárnio, também me é humanamente impossível deixar de falar naquela grande senhora (e espero que esta frase não seja mal interpretada), que é a senhora Fátima Felgueiras. Tanto ama o seu povo que mudou o seu apelido de origem paterna, para o nome da sua terra. Mas que, no entanto, não deixou de meter para o bolso alguns milhões. Não era um caso que merecesse falatório porque contam-se pelos dedos das mãos as autarquias que nunca tiveram um saco azul, se a dita senhora, não tivesse fugido para o Brasil quando soube da sua possível detenção. E eu digo possível porque a senhora nunca chegou a ser presa. Durante dois anos foi a garota de Ipanema e passeou-se pelo paredão brasileiro com o seu ar tasheriano. Passados dois anos, regressa ao nosso país, é julgada, absolvida e candidata as autárquicas de Felgueiras. Surpreendido?
É aqui que entra o meu espírito anti-democrático em achar que nem toda a gente tem capacidades mentais de decidir quem governaria melhor uma autarquia. E a prova disso são os inúmeros noticiários televisivos em que vemos dezenas de possíveis eleitores a receber de braços abertos a senhora que “meteu a mão” nas contas da câmara. Será que alguém tem dúvidas de que aquela senhora vai ganhar?
Senhores (as) eleitores que possam ler este artigo, peço-lhes humildemente que metam as mãos na vossa consciência, se informem, e que no dia 9 de Outubro votem cientes de que o vosso acto pode mudar a vida de uma cidade durante quatro anos.

26 setembro 2005

Ementa principal: amor e falta de gosto q.b.

Há uma tendência natural para “abimbalhar” qualquer festa por parte do povo português. E o maior exemplo disso são as festas de casamento.
Reúnem-se os convidados em casa do noivo e da noiva, respectivamente. Os noivos sofrem nas mãos dos pseudo-fotógrafos e, enquanto isso, os convidados devoram vorazmente as iguarias presentes. Tão bem que sabe comer sem pagar! Os estômagos revestem-se de doces e salgados adivinhando o pior.
A igreja. Enquanto alguns convidados choram tais Marias Madalenas, a maior parte das almas, mais impacientes, contorcem-se nos duros bancos da igreja e bradam aos céus para saírem dali. O padre fala, os noivos choram, os convidados suspiram… enfim, um verdadeiro quadro de miséria, um verdadeiro quadro lusitano.
Mas a fina-flor do entulho começa no copo-de-água. Convidados passeiam-se elegantemente em vestidos emprestados, sapatos apertados mas plenos da sua altivez (leia-se pequenez). Os cabelos armados em laca e os pulsos com tantas pulseiras quantas consegue suportar. De ouro, claro está!
Passadas poucas horas, as rainhas do ferro velho caem dos saltos e enfiam chinelos e tairocas. A maquilhagem esborrata e o cabelo começa a desarmar. Mas ninguém se importa, as fotografias já foram tiradas para a posteridade.
O manjar, como sempre divinal! Até porque, nos casamentos, a comida é sempre fantástica, principalmente porque é oferecida (parece que ainda ninguém percebeu que a pagamos de uma outra forma). Vê-se uma ou outra criatura a meter qualquer coisa dentro da pochetezinha comprada na loja dos chineses, mas ninguém parece importar-se muito.
A hora de lançar o boquet também é deveras interessante na medida em que as jovens solteiras (umas mais encalhadas que outras) se atropelam e se lançam em voo para serem as felizes contempladas, na esperança de serem as próximas a casar.
No fim do copo-de-água, a origem pouco aristocrata e muito popularóide dos convidados começa a transparecer à medida em que a cai a fachada da conveniência. O álcool aquece os corpos e estala o verniz a muito boa gente.
Já sem os ditos chinelos de enfiar no dedo, noivos e convidados acabam a noite a dançar descalços o “apita o comboio”.
(In) felizmente, há coisas que nunca mudam…
Felicidades aos noivos!